01 outubro, 2011

Gestão de crise



...ser gerido. Com o hype da crise económica, sobressaem os nossos gestores. Como não podia deixar de ser, os enfermeiros querem sobressair e exibem em primeira linha os seus dotes também de gestores, ou não sejam eles "pau para toda a colher" (estranhamente por vontade própria). "É preciso reduzir 15% nas horas extraordinárias"... todos os outros fogem, escondem-se, fingem-se surdos, cegos e mudos, tentam passar despercebidos para não pagarem a fatura da crise, mas os enfermeiros não, os enfermeiros, solidários como sempre, dão um passo em frente e reduzem, não 15%, mas ainda mais que isso, enquanto os outros esfregam as mãos... se os enfermeiros pagarem a totalidade da fatura, não sobra nada para eles. Pergunto eu se nós não pagámos já o suficiente da fatura ao longo de todos estes anos em que não estamos a ser remunerados de acordo como o nosso grau académico (ainda não descobri se isso não será inconstitucional). É claro que as competências de gestão dos nossos superiores hierárquicos são do mais avançado que existe... é preciso economizar? Corta-se, reduz-se! Eficiência? O que é isso? Se em vez de 5 enfermeiros por turno tivermos só 3, estamos a economizar... quem disse que economizar é difícil?! Depois na próxima reunião de administração já me posso gabar que consegui reduzir mais de 30% nas horas dos enfermeiros, ficando bem visto à custa de escravizar os meus subalternos (colocando em risco da segurança dos doentes) e garantindo o meu lugarzinho na instituição. A esperança de que "a crise" desenvolvesse noções de gestão nos enfermeiros vai-se desvanecendo no meio de tanta trapalhada e passos em falso. Os prestadores de cuidados, sempre preocupados com a economia, usam agulhas de calibre inferior para aspirar ampolas, para conseguirem economizar escassos cêntimos... "é pouco, mas se toda a gente fizer isso isso já dá alguns euros por mês", vê-se que não sabem qual é o orçamento de um hospital e o impacto disso no mesmo, mas o melhor de tudo é que o preço das agulhas até é o mesmo independentemente do calibre. O mesmo enfermeiro, em seguida vai executar um penso, a um doente em fase terminal, com poucas  mais horas de vida e usa material no valor de dezenas de euros (para além de causar desconforto ao moribundo). Querem economizar? Comecem por dar lições de economia ás pessoas, abram-lhes os olhos, chamem-nas à realidade, uma realidade com números com que elas nem sonham.

2 comentários:

Sant'Iago disse...

os enfermeiros não sabem gerir. Já tivemos esta discussão vezes sem conta com colegas e demais... continuam a achar que se devem poupar nas luvas, agulhas e demais material obsoleto.
eu penso na essência: os cuidados. p. ex: tratamentos de pensos desnecessários em doentes paliativos; meios complementares desnecessários apenas para estudos e blá blá; e o melhor de tudo:
o sistema. enquanto os primários (aka CSP) estiver ofuscado pelo lobi médico-farmacêutico o SNS não produz. os sistemas de saúde (noruega, finlândia, holanda etc.) que, realmente, funcionam têm cuidados de saúde primários que conseguem oferecer saúde, destoando a doença.
lógico, simples.. e barato.
poupar no material: são uns milhares ao fim do ano. mudar o sistema/paradigma: poupam-se milhões no semestre!

Marcelo disse...

Não é que os enfermeiros não sabem gerir, no Brasil, a formação de enfermagem nas grandes instituições atualmente tem gestão hospitalar. A questão não é que enfermeiros não sabem gerir, qualquer profissional, seja enfermeiro, médico etc não sabem gerir se não tem formação para fazer gestão hospitalar.