24 outubro, 2010

Adiável mas inevitável


...assistir à chegada dos "auxiliares de enfermagem" ou como lhe querem chamar "técnico auxiliar de saúde". Como eu já esperava, aconteceu o inevitável, e foi publicada a Portaria 1041/2010 que leva à criação destes técnicos. Lendo as funções designadas, à partida, estas pouco ou nada acrescentam ás atuais funções das assistentes operacionais (AO), com a diferença de terem formação específica para as funções a desempenhar e terem funções legalmente definidas, o que nem sempre acontecia com as AO. O enfermeiro deve cuidar do doente, da pessoa com uma doença (nunca podemos negligenciar esta condição). Não se focalizando na doença, que será do domínio médico, o enfermeiro é responsável por assegurar a satisfação das necessidades humanas básicas do doente enquanto este se encontra numa instituição de saúde, atendendo ás limitações impostas pela doença e pela institucionalização, mas é também responsável pela preparação do doente para a sua vida após a alta, com as novas condições impostas pela doença. O enfermeiro deve atuar não enquanto ser humano (com as limitações impostas enquanto tal), mas enquanto profissional de saúde, com o poder, o conhecimento e as competências para ajudar a pessoa doente. Atenção que o facto de ser responsável pela satisfação das necessidades, não significa que tenha de ser ele a executar todas as tarefas, muitas delas podem ser delegadas, sobretudo se tivermos pessoas com um mínimo de formação a quem as possamos delegar. Aos enfermeiros que dizem que vão ficar com pouco trabalho, eu respondo "se quiserem"... Se o enfermeiro fica mais liberto daquelas tarefas rotineiras, que pouco exigem de si enquanto profissional diferenciado que é, tem de aproveitar o tempo que ganha, para estar de facto com os doentes, analisando toda a situação do mesmo com o tempo necessário, todos os problemas, e encetar as medidas necessárias para os ultrapassar ou minimizar, sendo que poderá gastar mais tempo com um doente independente nas AVD's mas com outras necessidades por resolver do que com um doente totalmente nas AVD's, mas que pouco requer na verdade do enfermeiro, o que atualmente só pode acontecer teoricamente. Os doentes começarão a sentir que o enfermeiro está de facto ao seu lado quando necessita dele e não quando este quer/pode (dadas as rotinas impostas) e a imagem social do enfermeiro começará a ser valorizada, com todas as vantagens que daí advêm. Por outro lado, o enfermeiro fica com mais tempo para investir na formação, na sua, na do doente e familiares/cuidadores, devendo ainda aumentar a sua autonomia nas tarefas que desempenha, ou seja, reduzir as intervenções dependentes/interdependentes ao máximo de modo a poder prestar cuidados de modo mais eficaz e eficiente. Espero (embora não acredite muito) que a enfermagem portuguesa saiba aproveitar este impulso, esta indicação do caminho certo a tomar e consiga tornar o enfermeiro num profissional indispensável, coisa que como facilmente se percebe não acontece atualmente.

18 outubro, 2010

Realidade Virtual


...ficar seriamente irritado. Fico mesmo com os nervos em franja com aqueles profissionais com quem (infelizmente) temos de lidar diariamente no trabalho que estão completamente alheados da realidade, sobretudo quando também são enfermeiros e que exercem funções dispensáveis, cargos criados para aqueles que ficaram sem nada que fazer quando extinguiram os anteriores cargos por serem dispensáveis (um ciclo viciosa à "tuga"). São aqueles indivíduos que vivem num outro mundo, numa realidade perfeita mas inexistente, penso que não seja por não conhecerem a verdadeira realidade, mas porque não a querem conhecer e porque não têm de a conhecer, já que ocupam sempre umas funções (leia-se "tachos") onde trabalhando (termo figurado) fisicamente distante acabam por não saber as condições de trabalho, as limitações e os sacrifícios de quem realmente trabalha e com o maior dos moralismos mandam palpites e tecem criticas sobre o nosso trabalho, como se tivéssemos o mesmo tempo e as mesmas condições que eles. Quando isso acontece, no mínimo tenho vontade de os obrigar a calçar umas luvas e fazerem tudo o que ainda está por fazer enquanto eu vou comer qualquer coisa, já que não entra nada no meu estômago há largas horas; depois de terem tudo feito, gostava de saber se ainda continuam a achar que "seria melhor fazer isto ou aquilo"; quando o tempo mal chega para o essencial, o que fazer a quem sugere que devíamos investir mais em coisas de menor importância? Já que aparentemente no nosso miserável país não se pode viver sem os "jobs for the boys", pelo menos devia-se envolver os "boys" no verdadeiro trabalho, criando interacções com todos os profissionais que lhes permitissem ter uma noção no mínimo aproximada da realidade; se nem isto for possível, então, pelo menos, que fiquem no seu canto ideal e não venham incomodar quem já trabalha mais do que o que é aparentemente possível.

09 outubro, 2010

Teoria da evolução


...resistir à evolução natural das coisas. A informática está a invadir tudo, incluindo a saúde e como sempre, os enfermeiros são um ponto de resistência à inovação. Na enfermagem, a informática ainda faz pouco mais que substituir o papel pelo "digital" e mesmo assim a implementação é difícil. Parece uma anedota, mas teima-se em passar do registo em papel para o registo digital (até agora tudo bem) e depois... imprimir uma cópia (em papel) dos registos digitais! Mais uma vez, seguindo minha a "mania", pergunto, para quê? Como seria de esperar, as respostas são tão descabidas (para não lhes chamar outra coisa) como o ato em si. Questionam o valor legal da assinatura digital, quando este está decretado desde 1999 no Decreto-Lei n.º 290-D/99, sendo recentemente confirmado pelo Decreto-Lei n.º 62/2003. Falam do risco de perda de informação digital; mesmo sem saber a qualidade do sistema informático do ministério da saúde, sei que é muito difícil perder informação digital, quase de certeza guardada em mais que um servidor, de certeza absoluta mais difícil de perder do que uns papéis mal presos a uma capa velha que corre o hospital e por vezes o exterior deste, por várias mãos; qual a facilidade dos papéis se perderem? Enquanto os papéis podem voar, arder, dissolver-se em água e sei lá que mais fragilidades, os registos digitais dificilmente se perdem ou adulteram, dada a sua extrema fiabilidade (qual a probabilidade de uma catástrofe eletromagnética?). E qual o valor de uma impressão não autenticada, não assinada, não carimbada ou coisa que o valha? Um papel que eu posso muito facilmente copiar e adulterar num programa tão simples como um editor de texto. Quando os frágeis argumentos são rebatidos, resta a habitual afirmação "lá estás tu a ser do contra", quando eu até estou a favor (da evolução tecnológica). Porque insistem os enfermeiros em contrariar a mudança, a evolução, em vez de a usarem para tirarem proveito dela? Damn it! Assim não "saímos da cepa torta"...