27 agosto, 2009

Ciganos


...não gostar de ciganos. Correndo o risco de ser acusado de xenofobia e de generalização abusiva, venho por este meio manifestar o meu desagrado para com esta etnia. Os ciganos são um caso excepcional pois só possuem direitos e nenhum dever, pelo menos na "nossa sociedade", pois como eles dizem, "só obedecem ás suas próprias regras". Assim sendo, não têm o dever de pagar impostos, multas, seguros, nem de respeitar os demais; pelo contrário, têm de ter sempre prioridade no atendimento e tudo tem de ser feito à sua vontade e medida. Eu tenho de ter um cartão identificativo para entrar (e sair) do hospital; os ciganos entram e saem livremente, pois ninguém lhes barra a entrada por medo de serem depois abordados na rua por um verdadeiro exército de Ford's Transit brancas de onde sai quase uma centena de ciganos (de cada carrinha). Não têm de pagar impostos, pois isso não faz parte "das regras deles"; mas exigem casas novas (e gratuitas) porque o plasma ou o LCD (com respectiva TV Cabo e Sport TV) não lhe cabe na barraca e não têm garagem para guardar o Mercedes. Alguma vez viram um cigano sem-abrigo? Eu não. Se um turista estaciona a autocaravana num parque público durante a noite, é multado; os ciganos montam verdadeiras aldeias em qualquer sítio (incluindo os jardins dos hospitais) e "ninguém vê", ainda que destruam muitas das coisas que estiverem por perto e deixem uma verdadeira lixeira quando abandonam o lugar. Se não querem viver segundo as "nossas" regras sociais, então não usufruam das "nossas" regalias sociais. E depois ainda falam em abordagens multiculturais à pessoa...

24 agosto, 2009

À vontade do freguês

...trabalhar com o doente (e não para o doente). Os enfermeiros tendem a passar os limites daquilo que são cuidados de enfermagem para aquilo que é trabalho de criado. Isto acontece, para além de outras razões, porque os limites entre os dois campos não estão bem definidos. Alguns dirão: "o enfermeiro deve ajudar o doente nas tarefas que o mesmo não consegue ou não tem motivação para realizar"; então eu pergunto: e se o doente costumava usar um leque para se refrescar mas agora não consegue? será que o enfermeiro, tendo disponibilidade, deve ficar ali a abanar o leque para o doente? Qualquer doente dirá "sim!", eu próprio (no papel de doente) diria, afinal de contas, de criados (quase?) toda a gente gosta. A grande maioria dos chefes dirá: "sim, devemos fazer o doente sentir-se em casa", mas será que devemos cuidar do doente como estando num hospital (ou outra instituição de saúde) ou como se estivesse em casa? Será que isso não é fazer papel de servo? Onde terminam os direitos do doente e começam os meus? Como será de esperar, a imagem o enfermeiro pouco tem a ganhar com uma mistura com a imagem do criado, servo, escravo (diria até). Então insisto, será que só por ter disponibilidade, o enfermeiro deve satisfazer "todas as vontades" do doente?

19 agosto, 2009

Notas soltas


...escrever e falar demais (ou não). Estou-me a referir respectivamente aos registos de enfermagem e à passagem de turno. O que me leva a postar sobre este assunto são todas as vezes que saí atrasado porque os meus colegas (sobretudo do género feminino) decidem relatar o que todos os doentes fizeram desde o início ao fim do turno (com ou sem relevância para os cuidados e sua continuidade), e mais grave ainda, quando o fazem lendo os registos escritos que previamente redigiram. Não sabem que a passagem de turno deve complementar a informação escrita, o que nos leva a outro ponto - nem tudo deve ficar escrito em notas de enfermagem (algumas das coisas serão transmitidas via oral), mas apenas os factos essenciais, significativos e pertinentes, de forma clara, precisa e concisa, o que raramente se verifica. O objectivo dos registos de enfermagem é assegurar a continuidade de cuidados, estabelecer um meio de comunicação entre os membros da equipa de saúde, contribuir para a avaliação da qualidade e eficiência dos cuidados e ainda constituir um suporte legal para a nossa actuação. Pergunto então eu, qual o objectivo de descrever o que o doente não tem? "Não tem cefaleias, nem mialgias, nem sialorreia, nem teve dejecções..." Se nalguns raros casos dizer se pode justificar a referência a algo "que o doente não tem" ou "que não se passou", na grande maioria das vezes, o que deve ser referido é o que se passou, "o que o doente teve", "o que eu fiz", "o que precisa de ser feito" para assegurar a continuidade dos cuidados, as alterações dignas de registo. Se houve algum problema que até foi resolvido entretanto, não é preciso (geralmente) descrever todos os passos dados para a sua resolução, a menos que isso constitua uma oportunidade de formação em serviço/em situação, obviamente. Caros(as) colegas, eu não quero saber se o doente esteve a ver o programa do Goucha ou do João Baião, se quiserem podem-me dizer que esteve a ver TV e chega! Também não há necessidade de repetir registos; se já registaram a terapêutica em folha própria (ou electronicamente) para quê repetir o registo (e isto inclui soroterapia)?

16 agosto, 2009

Enfermagem assistida


...não concordar com a existência de auxiliares de acção médica, ou, actualizando o termo, assistentes operacionais (AO). Se o jardineiro lá do hospital tem formação na sua área, o mesmo se passando com os funcionários de limpeza, como é que pode haver profissionais em contacto directo com o doente sem formação específica? A solução para este problema é atribuír a supervisão do trabalho dos AO aos enfermeiros; assim, o enfermeiro que executa as suas funções definidas e pelas quais é responsável, tem de assumir ainda a responsabilidade pelas funções exercidas por outro profissional. Sou só eu que vejo aqui um grande problema, uma vez que os enfermeiros não são omnipresentes? É assim natural que muitas vezes (sempre que possível) o enfermeiro prefira fazer ele próprio as coisas, do que solicitar a alguém que, não sendo responsável pelo que faz e não tendo formação para tal, poderá fazer asneira. É neste sentido que defendo a substituição dos AO pelos auxiliares de enfermagem, profissionais que quando solicitada a sua colaboração, se saiba que têm formação nesses sentido, podendo transmitir confiança e que sejam responsáveis pelas suas acções (previamente definidas). Até à criação dos mesmos, não vejo porque se critica as contas feitas pela Ordem dos Enfermeiros ao equiparar os rácios enfermeiros/utentes de Portugal com os dos países onde se aplica enfermeiros+auxiliares de enfermagem/utentes; afinal de contas, em Portugal não são os enfermeiros que fazem o trabalho dos auxiliares de enfermagem de outros países?

13 agosto, 2009

Trabalho de licenciado


... ouvir quase todos os dias o comentário: "eu não queria ser enfermeiro(a), eu sei que são precisos e ainda bem que há quem queira ser, mas eu não conseguia, é preciso gostar muito..."


Quais são as ilações que eu tiro destes comentários frequentes?


Porque é que as pessoas não querem ser enfermeiro(a)s? Se em tempos idos era por "falta de coragem para ver sangue ou picar pessoas", hoje é por "não terem coragem para tomar conta das pessoas dependentes, mudar-lhe a fralda, dar-lhe de comer, ser maltratado e responder com um sorriso". Os enfermeiros deixaram de ser "os das picas" para passarem a ser "os das fraldas" (ou outra coisa menos bonita, que não vou aqui dizer). A enfermagem passou a ser vista como uma profissão suja; que dignificação pode daqui advir para a imagem dos enfermeiros? De quem é a culpa desta mudança? Não será dos enfermeiros que começaram a achar que deviam ser menos tecnicistas (e até deixaram ir "as picas" para os farmacêuticos), para serem mais "humanistas" e se especializarem em técnicas como a "mudança da fralda" ou o "levar a comida á boca do velhinho"? Dos enfermeiros que pedem aos familiares para sair da enfermaria para "mudarem as fraldas"? Não ficarei surpreendido se/quando assistir ao aparecimento da "especialidade em mudança de fraldas" ou "mestrado em cuidados de higiene no chuveiro". Será isto o cerne da enfermagem? Será que é necessário um profissional licenciado para mudar uma fralda, levar a comida á boca ou levar ao chuveiro QUALQUER doente? Para terminar, porque é preciso gostar de ser enfermeiro para se ser "bom enfermeiro" e não é preciso gostar para se ser bom professor? Somos uma profissão baseada na ciência ou nos sentimentos?

11 agosto, 2009

Karting




...fazer uma tarde de karting com um amigo e reparar na curiosa semelhança entre o karting e a enfermagem: em ambos parece que atingimos altas velocidades, faz-nos sentir a adrenalina a correr, mas na verdade a velocidade não é tanta quanto isso; se conseguirmos melhorar um pouquinho (no tempo de volta) ficamos todos contentes; andamos andamos sempre ás voltas e acabamos por nunca sair do mesmo sítio; se tentamos ir um pouco mais depressa que o que devemos, vamos contra as protecções e acabamos por nos atrasar, se vamos mais devagar, levamos uma pancada do colega que vem atrás, e por fim, quando terminamos, estamos cansados e com mialgias. A enfermagem só ainda não se paga para praticar, embora esteja a caminhar para isso, havendo já quem pratique de graça. A maior diferença é que quem for mesmo bom no karting pode chegar ao sucesso e na enfermagem o mesmo não acontece.

07 agosto, 2009

O melhor do mundo


...conhecer crianças que não o podem ser, têm de crescer demasiado rápido, porque uma doença, tão cruel que não cabe nos seus inocentes pensamentos levou a mãe e o pai alcoólico nunca será um pai para elas e os irmãos que acabam por ficar ao seu cuidado. Ser enfermeiro é conhecer outras crianças que não vão ter tempo de crescer, porque a doença com a qual começavam a aprender a viver, lhes roubou a vida e partiram deste mundo que mal conheciam, mas permanecem sempre nos pensamentos dos enfermeiros que inevitavelmente a eles se afeiçoam, povoando os seus pesadelos quando dormem, mas também quando ficam acordados a tentar não pensar no trabalho, que ficou no hospital (?). Não é dificil perceber porque a enfermagem é uma das classes com maior risco de suicídio dos profissionais.

06 agosto, 2009

Roullement



...pôr a pé ás 7h, trabalhar até ás 16h, dormir um pouco e voltar a trabalhar das 22h até ás 8h, dormir de dia e mais um pouco durante a noite, para no dia seguinte voltar a trabalhar das 15h até ás 23h, chegar a casa e dormir o pouco tempo que resta, para no dia seguinte trabalhar de novo das 7h ás 16h, dormir durante o dia para voltar a trabalhar das 22h até ás 8h. A semana acabou... o que vivi nesta semana? Nada... só trabalho. Enfermagem, profissão de desgaste rápido? Só para quem a exerce, não para quem legisla.

05 agosto, 2009

"Ser ou não ser, eis a questão"



...começar um blog por incentivo de um amigo, desenvolvê-lo por curiosidade e terminá-lo quando simplesmente me apetecer. Assim surge mais um blog, como sempre, mais interessante para quem o elabora do que para quem o visita. Falar-se-á de enfermagem, sempre de um ponto de vista muito pessoal e de coisas pessoais (quase) sempre com o toque da enfermagem. Aos poucos se vai construindo uma definição de um enfermeiro em particular e do actual contexto da enfermagem em geral.