05 novembro, 2010

O fim?


...vivenciar diariamente a morte. Acompanhamos o doente desde a sua admissão, durante o seu internamento até à sua saída, criando ligações, profissionais, mas por vezes também afectivas, estabelecemos uma relação empática. Assistimos por vezes impotentemente ao declinar da saúde e das forças, recebendo confissões, queixas e pedidos dolorosos de ouvir. Estamos com o doente nos momentos finais e temos de informar os familiares e ajudá-los a iniciar o processo de luto, o que pessoalmente considero ser o mais dificil. É muito dificil, por vezes impossivel mesmo não sentir simpatia (sim+pathos) para com os familiares; ainda que digamos para nós mesmos que o doente não era nosso familiar, nem nosso amigo, o grau de sofrimento normalmente manifestado pelos familiares (por vezes presentes no momento) afecta-nos profundamente, mesmo procurando escapatórias (que talvez não sejam as mais eficazes) como a indiferença, pela qual ás vezes somos criticados, por quem desconhece a complexidade do processo. Cada vez mais as implicações destas situações nos profissionais de saúde são alvo de estudos, mas continuam desvalorizadas e os seus efeitos podem ser muito nefastos para o profissional que sem acompanhamento, sem ajuda é sujeito a elevados níveis de stress e de forma cumulativa pode levar a situações como o síndrome de burnout. São complicações que afetam a pessoa não só na sua vida profissional, mas também na sua vida pessoal, afetam os seus familiares e amigos mais próximos. Infelizmente, ninguém cuida de quem cuida.

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