13 julho, 2012

A greve de década



...fazer o rescaldo daquela que me parece ter sido a greve mais mediática dos últimos tempos - a greve geral dos médicos. A principal razão desta greve parece-me ser claramente a pretensão da demissão do ministro da saúde, para ir para o seu lugar (mais) um médico e assim terem tudo o que querem, como tem sido regra até agora, daí só agora terem feito greve (em 25 anos!) e sem disponibilidade para negociações antes desta, mesmo perante cedências do ministro. A outra razão serão as condições laborais/salariais; mesmo com o país falido, onde (quase) toda a gente tem de se sacrificar, correndo grandes riscos de ir parar ao desemprego, os médicos decidiram fazer greve porque nas suas horas extra diminuíram de 80 (!!!) para 30€/h (só???). O privilégio desta classe não é segredo nenhum e nem adianta disfarçá-lo, só a certeza de emprego seguro aquando da finalização do curso vale o que vale, mas os inúmeros privilégios não começam só aqui e acabam bem longe. 

Gostei da intenção dos médicos de fazerem os utentes acreditarem que não valia a pena deslocarem-se ás instituições de saúde porque estas não estariam a funcionar (a saúde são médicos, só!) e ainda gostei mais da conivência de alguns enfermeiros que cancelaram as consultas de enfermagem por estas não fazerem sentido sem haver consultas médicas (depois não se podem queixar muito dos 7€/h ou mesmo dos 4); recordo-me de na última greve dos enfermeiros os médicos terem tirado o estetoscópio do pescoço e se terem armado em enfermeiros, furando a greve por pena dos doentinhos (essa desta vez esfumou-se).

A minha última reflexão vai para os serviços mínimos assegurados. Chegou a hora de fazer contas... no meu serviço, turno da manhã:
  - enfermeiros: dia normal, 20; dia de greve, 12 - mínimos: 60%
  - médicos: dia normal, 16 (80 contando com os internos); dia de greve, 1 - mínimos: 6% / 1%
Que conclusões se podem tirar destes números, e destas, quais as acertadas?
Porque é que só são precisos 1 - 6%  dos médicos para realizar os serviços mínimos, quando são precisos 10 - 60 vezes mais enfermeiros? Será que 60% daquilo que os enfermeiros fazem é o mínimo indispensável, enquanto que 94 - 99% do trabalho dos médicos é perfeitamente dispensável? Será que os enfermeiros são assim tão mais eficientes que os médicos? Se alguém conseguir tirar mais alguma conclusão, esteja à vontade para a publicar...



2 comentários:

Anónimo disse...

Fácil:
- o trabalho dos 2 tipos de funcionários públicos é DIFERENTE (!!)
Se mais explicações forem necessárias, utilize-se uma analogia: certamente que, numa greve de juízes, poderiam parar quase todos, durante 2 dias, sem prejuízo das funções consideradas urgentes/imprescindíveis; já se os polícias pudessem enveredar por esse tipo de protesto, alguém se atreveria a considerar que a mesma fracção pudesse ser dispensada?

LProlog disse...

Caro anónimo, seja benvindo. Que o trabalho é diferente, não é novidade nenhuma, mas a beleza dos números é que um estes "são sempre iguais", não sei se me fiz entender...

Não descartando a pertinência da analogia que fez, não forneceu nenhuma conclusão explicativa.