02 janeiro, 2010
Cuidado!
...cuidar. No seguimento de um post anterior, vou expor a minha reflexão sobre aquilo que enche a boca a tantos enfermeiros, mas não parece encher o bolso - o cuidar. Neste primeiro post vou só definir este termo (que de concreto não tem muito) para não me alongar demasiado.
Para a maioria dos autores a essência da enfermagem é mesmo o cuidar, pois tudo o resto será mutável na enfermagem. A diferença entre tratar/cuidar e os "holismos" é certamente incutida em todos os enfermeiros durante o curso, pelo menos na sua vertente teórica (a aplicação prática "é outra conversa"). De toda a teoria que me foi incutida, diria que o cuidar se focaliza na relação interpessoal com uma pessoa ou grupo de pessoas (família ou comunidade) e que visa apoiá-las no decurso de processos de transição, sejam eles no âmbito da saúde ou das transições decorrentes do ciclo vital. Os enfermeiros, mais do que centrados nos processos patológicos, interessam-se pelas implicações que esses processos e outras transições possam evidenciar junto das pessoas que eles assistem. Segundo Collière, desde o início da história da Humanidade que o cuidar é imperativo para garantir a continuidade da vida do grupo e da espécie e esteve implícito ao “Ser Humano” inserido numa comunidade. Segundo Hennezel, “Cuidar é hoje e continuará a ser, o fulcro da prática de Enfermagem, e por mais sofisticado que o desenvolvimento tecnológico venha a ser, a interacção pessoal será sem dúvida fundamental para a recuperação e manutenção da saúde e maximizar o bem-estar dos indivíduos, famílias e comunidades”.
Partindo da definição do "cuidar", vou nos posts seguintes reflectir sobre as implicações de (querer) ser um profissional no cuidar.
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3 comentários:
Boa tarde,
É um facto que ao longo dos 4 anos de licenciatura nos são incutidos múltiplos conceitos que tentam definir afinal o que é isto de ser enfermeiro, tentando dar um sentido à profissão e preparando-nos para algum tipo de futuro.
Dizem-nos que vamos cuidar (e não tratar) a dita Pessoa Humana (que sempre me encheu as medidas....)com base no modelo holístico da prestação de cuidados, vendo o individuo como uma unidade singular, inserida num meio e culturas próprios, portador de uma entidade genética única.
De facto a minha quase inexperiência não me deixa reflectir tanto quanto gostaria. No entanto, acredito que cuidar seja um dos nossos pilares da tal essência de Enfermagem. O único? Provavelmente até não. Gosto de pensar que cuidamos e tratamos de uma pessoa e de uma doença. Não acredito que nos devamos focalizar apenas na pessoa, nos seus processos d transição e de todos aqueles que a envolvem. Somos Enfermeiros, penso que somos mais do que isso. Não estou a dizer que é fácil essa parte, mas não devia ser a única, embora nos ensinem isso, com o objectivo de definirmos a nossa área de actuação e torná-la distinta da dos outros profissionais de saúde.
Às vezes penso que não nos encontramos ainda e então enchemos tudo de palavras bonitas que no fundo nada dizem. Cuidar é bonito, mas devia englobar mais, exigir mais, querer mais e devia ser para quem realmente o soubesse fazer. Falta-nos exigência.
Nós temos acesso a conhecimento científico e a outras realidades que nos começam a ultrapassar no que toca ao cuidar na prática. Começam a alargar os seus campos de actuaçao, mas se calhar nunca deixando a pessoa de parte na mesma. Não se estamos preparados para isso ainda. Nas escolas não querem que estejamos, infelizmente. Dizem-nos que a técnica se aprende depois, o importante é aprender a estabelecer uma relação empatica e a deixar a pessoa confortável encontrando o que para ela é qualidade de vida e bem-estar. Tudo muito bonito, mas não chega.
Desculpe este texto um pouco extenso e que se calhar nada reflecte, penso que nem consegui dizer metade do que queria, mas estamos aqui para aprender.
Obrigada,
Sara
Olá Sara. Referiste aspectos importantes no teu comentário como: "o objectivo de definirmos a nossa área de actuação e torná-la distinta da dos outros profissionais de saúde."; "não nos encontramos ainda"; "estabelecer uma relação empatica e a deixar a pessoa confortável encontrando o que para ela é qualidade de vida e bem-estar" (atenção que cuidar não é isto!).
No(s) próximo(s) post(s), que surge(m) na continuação deste estes pontos também vão ser abordados (depois das minhas pequenas férias).
=) ok, e umas boas férias!
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